Organizar a vida: a arte do leve participar

Fios entrelaçados povoam a mesa, buscando aumentar a entropia. Se o ser que os liga e conecta não os toca, permanecem ali espectadores do vazio. Sua extensão, em alguns pontos, encontra apenas uma parcela atmosférica em constante movimento. Inertes, têm a energia a fluir em suas veias. Ligam aparelhos, numa frenética troca, transportam apenas, sem saber o que importa.

Pessoas são como condutores, alguns meros portadores, em seu interior apenas o metal, que nada retém. Jogadas nas mesas, conectam, conduzem, sem julgar. Recebem, passam adiante e nada acrescentam. Nas mesas da vida jazem entrelaçadas, cada dia mais envoltas no ofício de conduzir, deixam de produzir. Não criam, não pensam.

Rolando as telas, ávidos em encontrar uma notícia, um meme, para enfim divulgar.


Quanto mais tempo dedicam a essa prazerosa atividade, envoltas em fios, enrolados, jogados, menos crítica vai ficando a sociedade. Emaranhadas na vida que o fútil sempre traz, agradando com o seu brilho tentador. Despreza o saber pela pronta resposta que os elétricos podem dar. Para quê então estudar? O conhecimento está nas telas, basta indagar.

Buscar soluções no órgão máximo do nosso corpo pode parecer antiquado. Mas é nele que repousa o que somos. O que temos sem os cabos, as conexões, a energia elétrica e todos os aparelhos que a ela se conectam? Humanos, senhores das próprias criações, delas viver é apenas opção. Assim, ao invés de imersos, presos. Do isolante pode-se, enfim, escapar. Extrapolar o virtual. Deixar de ser parte, para leve participar. Em si conectar, mais realidade sentir. Organizar o emaranhado. Viver mais tempo fora da rede que, cativos, nos prende.

Nesse instante, a felicidade falará mais alto no ser.


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