Tapete de algodão

A caminhada até a escola era alegre, os colegas seguiam junto, celebrando a força da amizade. Desconhecidos do primeiro verão, em pleno outono, nutriam a simplicidade do encontro fraternal. Paineiras enormes rompiam céu azulado. De suas róseas flores, a paina frutificara. Marcaram o passo das felizes conversas. Histórias das proezas das atletas de seu esporte favorito eram pontuadas com observações apaixonadas sobre as garotas, belas jovens do colégio. Tímidos, as paqueravam, sem coragem de declarar o sentimento puro que nutriam.

As painas caídas formavam um delicado tapete, tufos de algodão escondendo o verde da grama onde deitavam. As árvores, despidas de folhas, geravam a clorofila do seu tronco desnudo, permanecendo saudáveis. Chovendo o branco incessantemente. Os amigos observavam essa cena com a felicidade típica das jovens e despreocupadas almas. O esplêndido espetáculo da natureza era um reflexo do coração dos estudantes. Sereno como os alvos frutos, e forte como a madeira que respirava.

Durante os quinze minutos de conversa, no passo firme da mocidade, uma pausa na padaria para um gole de refresco e mais motivo para se entrosar. Já viviam meses do novo colégio, mas o assunto sempre rendia. Combinavam fins-de-semana de peteca, o mais alto sempre vencia, mas o importante era a companhia. Naquela época, quase não existia videogame. A conexão era o telefone. Único meio virtual que somente a conversa transmitia.

Hoje, as paineiras se renovam a cada estação, mas os novos estudantes quase não enxergam. Ocupados com os jogos digitais e a correria. O calor da amizade dos jogos de peteca é raridade. Foi preciso proibir os modernos telefones nas escolas. A sincera preocupação dos pais e mestres amplia a luta por uma infância menos conectada. Assim, a certeza de um futuro onde as painas pintem os olhos dos jovens surge no horizonte. Na totalidade de cores que o branco representa.

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