A quarta dimensão
O som agradável da música vem do banheiro, misturando-se ao barulho da água que cai do chuveiro. Ela canta junto. Na boca repousa o gosto da bebida, marcante e saboroso. A tela exibe o programa que permite a escrita. Sentindo as teclas suaves, os dedos habilmente percorrem cada letra, símbolo e acento. A escrita já foi com canetas e cadernos, hoje ele não tem tanta destreza. Sua letra no papel chega a ser ilegível. Folheando o passado, a caligrafia se dissolve em garranchos sem sentido. Um relógio analógico no pulso esquerdo marca meio-dia e dois, mas a tela exibe 23 de agosto, 12:05. O digital é certo, assim também é o texto, corrigido enquanto se cria. A precisão dos eletrônicos é boa, mas convida a uma vida contada em segundos, quando se quer viver sem hora. Apreciar bons momentos requer um tempo que, no século XXI, parece ser escasso. O som que vinha da Internet, repentinamente, dá lugar à música de um rádio em outro cômodo. Andorinhas bailam voando, buscando presas que capturam no...